terça-feira, 26 de outubro de 2010

"A traição dos intelectuais" - Julien Benda

Terminei de ler agora o “A traição dos intelectuais”, de Julien Benda, um livro fundamental para todos aqueles que querem ter um quadro bem delineado e justo de como vem sido exercido o intelecto pelo mundo moderno, nos termos do livro, a recusa dos valores universais e a consequente subjugação do espiritual ao temporal; por isso, serve de guia a todos os quem se preocupam em ter uma formação séria, baseada nos valores intelectuais por excelência a justiça, a verdade e a razão. Seguindo a linha dos intelectuais, os únicos verdadeiros para ele, que tem como atitude de vida suprema morrer pelos valores universais, como um Sócrates, um Platão ou um Aristóteles, acredita que estes intelectuais são “crucificados, mas sua palavra habita a memória dos homens”. Tem como epígrafe esta sentença de Renouvier que ilustra profeticamente qual será o tom da obra: “O mundo padece da falta de fé em uma verdade transcendente”, o que tal padecimento é perfeitamente explorado e demonstrado na obra.


Muito aclamada na França do século passado, e, também muito mal compreendida, como todas as grandes obras, foi considerada pelo poeta brasileiro Bruno Tolentino um dos maiores livros do sec. XX, leitura indispensável.


Trecho final do livro:


"Chegar-se-á assim a uma "fraternidade universal", mas que, longe de ser a abolição do espírito de nação com seus apetites e orgulhos, será, ao contrário, a forma suprema dele, a nação chamando-se Homem e o inimigo chamando-se Deus. E a partir de então, unificada em um imenso exército, em uma imensa fábrica, não conhecendo mais senão heroísmos, disciplinas e invenções, desacreditando toda atividade livre e desinteressada, desistindo de pôr o bem para além do mundo real e tendo por deus somente ela mesma e suas vontades, a humanidade alcançará grandes realizações, quero dizer, um domínio realmente grandioso sobre a matéria que a cerca, uma consciência realmente satisfeita com seu poder e sua grandeza. E a história sorrirá de pensar que Sócrates e Jesus Cristo morreram por essa espécie."


É de grande valor também o seu diagnóstico da debacle da arte, prostituída no puro sentir, na qual há o pleno enfraquecimento da razão, que passou a ser desacredita e até vista como impedimento às produções artísticas, sem nunca desconfiarem, estes cantores da arte contemporânea que "jamais Victor Hugo, Lamartine ou Michelet se glorificaram de desprezar nas coisas seus valores de razão, para nelas estimar apenas seus valores de arte". Em termos mais claros e diretos: "Quanto a essa decisão dos homens de letras de solicitar seus julgamentos apenas à sensibilidade artística, ela não é senão um aspecto da vontade que possuem, desde o romantismo, de exaltar o sentimento à custa do pensamento, vontade que e ela própria um efeito (entre mil) do rebaixamento neles da disciplina intelectual.". Outro acento bem posto por ele é que sempre a exaltação do sentir, e a sede interminável, a todo o custo, tem como consequência o entendimento de que o artista é um ser excepcional, algo que para os antepassados, os da Tradição, seriam apenas pensamentos extravagantes.

domingo, 24 de outubro de 2010

Luís de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho logo mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semidéia,
que, como o acidente em seu sujeito,
assim co'a alma minha se conforma,

está no pensamento como idéia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como matéria simples busca a forma.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ode aos Ilustríssimos














(A marchinha oficial do Prosas)

As Prosas da Amazônia vêm em canto
Do encanto de seletos ilustríssimos
Que juntos preservam a vanguarda
Recontam os poétas e conversam sobre o nada

Que juntos contemplam o invisível
Intentam um mundo incrível
E sonham pra valer

O afã maior de nossa filosofia
É guardar presença amiga
Para sempre ao outro dar

Para sempre...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Opostos

Os pergaminhos do tempo
Te mantiveram viva em mim
Como lenda insustentável
Como algo inopinável

As incontáveis estrelas
Que sempre surgem
Em céus diferentes das cidades
Jaspearam os teus olhos
Moldados em fogo e luz

Transpirei o veneno que me deixaste
Expurguei quase toda a mentira
Que eu mesmo mantive viva
Fechei meus braços sobre meu corpo
E prendi com dureza a única verdade que me restava

Arregalaste os horizontes fechados
Penetraste no mundo além do mundo
No eu além do eu
Quebraste as fronteiras do certo e errado

É. De fato és a superação de ti
És o monumento erguido de amor e ódio
Guerra e paz entre opostos
És moldada pelo bem e pelo mal

Estás no centro de tudo
Mediando toda divindade e paixão
Meditando toda loucura e razão
Santuário dos contrários
Repudio dos sensatos
Temor dos exatos

Eu não compreendo teu pensar
Por isso talvez me interesse tanto
Pela tua insensatez constante
Pelo teu barato irritante

És a estupidez sensível
A menina invisível
Que se esconde em mulher
De beleza e grandes olhos

És o medo de mim
O feio de ti
O belo dali
E o meio do mundo.