segunda-feira, 7 de abril de 2014

Coisas ocultas desde a criação do mundo



Quando bebo do impulso lancinante
Há um pranto que ladrilha minha estrada
Que se atira em meu peito de espinhos,
E chama-me depressa à sua morada.

Não vem a mim como vem a aurora,
Nem temível como legião
Mas sussurra docemente em meu ouvido
Coisas ocultas desde a criação.

Mas uma espada lhe trespassa a alma
Amarga dor e sede sente.
É por mim que chora a Senhora
E com o orvalho me beija de repente.

A descendência da mulher então proclama
Do seu sangue a própria efusão.
Que mistério é esse que me toma,
Como filho de tão imaculado coração!

Sacudo em desespero o seu manto.
No meu rosto, pobre, caem estrelas
E mesmo curvado para baixo,
Os meus olhos, ergo para vê-la.

Doce alma, vaso da Palavra
Busco em ti refúgio de mim mesmo
E agora só me resta perguntar
Se é a ti ou ao Outro que almejo.

Vá embora ó Príncipe da morte.
Deixa-me a face Dela contemplar
Que se não há lugar para mim na vida Eterna
Que ela mesma seja o meu lugar!



David Carneiro
22/02/2014