quarta-feira, 30 de junho de 2010

Meu primeiro namoro

Cai os olhos, cai a noite,
Cai as estrelas, cai um olhar
Dois jambos maduros, cai de amor,
De chorar, uma gota d’água de luz,
Um beijo incandescente do céu
Cai a vida e a morte
E um adeus...

Cai meu rosto como um verso triste,
Cai as horas se perguntando horas
Cai as rosas, pois não são mais rosas ---

Apanho as rosas,
Pois ainda te amo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AMOR QUE TEM SEU FIM NAS ÁGUAS DA NÃO CONSUMAÇÃO

Tenho tudo a ti dizer, mas não há nada a ti dizer. Ti dizer que me inundei em tanto mar de amor quando – navegando ao léu – te avistei numa manhã, te afogará de susto certamente. Do amor desmedido e impossível que molhou minha alma, só a minha solidão sabe que no peito cabe. Mas teu amor, mulher do balcão, carece de bem mais que olhar contemplador de um homem Platão. Mesmo assim ousarei te perguntar: que queres?
Do teu querer, mulher do balcão, só tua infinita profundeza sabe. Mas dos teus olhos algo ínfimo escapa: teu querer é amar. Anseias a-mar um marinheiro exausto por ti e que seja só teu. Isso, meus olhos d’água desvãos conseguem beber nos teus, mesmo sem tua permissão.
Só quero que saibas que um dia um pequeno marujo contemplador de horizontes passou diante dos teus olhos e sonhou de perto um horizonte distante ao te avistar. Sonhei divagando, por um doce momento naquela manhã, descer aqueles degraus com os dedos entrelaçados aos teus e sair à luz da manhã de mãos dadas a tua delicada mãozinha branca de unhas lilás, pronto para velejar todos os teus sonhos de amor.
Platão é perfeição. Perfeição, minha fantasia. Fantasia é loucura (diante do real). Loucura é confessar-se a ninguém. A loucura e a madrugada autorizaram-me te dizer, ninguém, que cada um dos teus gestos foi naquela manhã, ao meu coração encharcado de amor-contemplação, o mais observado, o mais belo.
Mas, na vida, hás mesmo de ter um marinheiro melhor – concreto – apto a navegar ao teu lado nas árduas águas do mundo real.
Por um insano instante, quis louca e imensamente teu corpo e tua alma possuir, com toda minha delicadeza e firmeza de homem. Quis teu grande marinheiro ser. Querer ainda quero, mas o tempo, o dia, a rotina, a vida, o mundo real, apartaram levemente a loucura de mim. Aproximaram a bendita-maldita sanidade. E esta diz em meu ouvido em segredo: “poeta, te declara ao papel. Ele aceita teus desvarios, ela não, é real”.
Obedeci à sanidade. Eis o papel de confissões desvairadas. Mas também à desobedeci, pois a loucura, ao outro ouvido do poeta insistiu: “Entrega o papel a ela!”.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Soneto dos Olhos que Vêem o Invisível

Tua beleza de mulher de ver
Reluz Maí todos sabem olhar
Tua beleza de mulher de ser
É sutileza pra só um olhar

Não me nege o teu olhar jamais
Não o desvie e eu não desvio a ti
Se quiseres que eu não chore mais
Diz ao medo que meu tempo é aqui

Ensina meus vãos olhos a olhar
Teus detalhes sempre, tanto e mais
Teu transbordar de generoso amar

Aguça tudo de velado em mim
E nú estimo enternecer-te em paz
Te Daramor em ritual sem fim

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Noite na praça


Insinuei um verso, silêncio da noite

Teus olhos me fugiram em sinal de adeus

E o medo foi caindo, caindo

Deixando tocar os teus dedos

Na ponta dos meus


Alquimia de amor, é madrugada

O teu riso embalou o meu ar

O teu corpo se atirou ao esteio

Teu seio sorriu ao luar


Colori um verso, cheio de encanto

Arando o tempo e vendo nascer

A palavra que pintasse tua arte

Meu encanto no tempo a bater


Vem logo ser minha musa

Já pões pensamento e fogo a girar

No movimento desses mesmos cabelos

Que, de noite, te vi soltar


Já se arrancam vestígios de medo

Já vagueia meu não poder ser

De que adianta negar o desejo

Que nos teus olhos eu vejo nascer?

David Carneiro 10/06/10

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sem título



Encostei meus ouvidos nas faces do rio.
Tocando o barulho das pedras que jogaste na noite
Tateei tua presença, imerso nas águas
Buscando, insano, teu beijo partido.

Por que me enganas com o vão desses teus olhos
E me cravas o peito com o não da tua boca?
Por que me cultivas em silêncio lento
Evaporando-te logo ao calor do medo?

Já não me inspira mais teu desespero
Não serás minha musa até o instante do beijo
Meu corpo insano já canta pela noite
Vem um sorriso conduzir-me à dança

Nau de pedra cortando o vento
Perfura, formula paisagem
A geometria do meu canto alado
Voa, levantando tua saia

Quero reter com as mãos teu canto etéreo
É no silêncio que te tenho lenta
Meu sussurro chega então aos teus ouvidos
Ficas inquieta. Ainda não começará a vida.


David Carneiro 01-06-10