sexta-feira, 10 de junho de 2011

CEU VERMELHO


Em noite profunda,
Céu é vermelho de chuva,
Mas que não quer cair.





                                                                     

domingo, 5 de junho de 2011

Falta de si (Carta de um Vivo-Morto).

Ando em torno de alguns pensamentos,
Rios de luz entrelaçados no escuro dos meus olhos.

Penso sobre o Ser do meu futuro.
E da dor deste Ser-que-serei,
quando lembro do que sou agora.

Me resta a abstinência que sinto de mim mesmo...
Dou qualquer valor por mais uma dose de mim.

Isso, queridos amigos, há muito morri.
Talvez com 19, ou 16.

Vivo nesta carne de um vivo-morto.
Assombro meu passado com o meu presente.

Me sinto mais que morto!
E o que ainda tinha por viver?
Meros devaneios felizes que nunca viverei.

Mas o que distinguiria esses sonhos felizes das lembranças de quando vivia?

Isso, meus queridos amigos, somente vossas lembranças de mim são o que me fazem ter certeza,
Certeza de que as minhas recordações existiram,
Funcionando como uma prova de vida.
Prova de Amor.






OBS: "Abstinência de si" é uma expressão de Paulo Tamer.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lavoura

Eu quero dar-te a flor do tempo

Não para que a vejas florir

Mas para que admire o seu perecimento

Perto da tua carne, perto do teu sopro.


E no convite da beleza dos ponteiros

Possas ver-te refletir no relógio parado

Nas válvulas quebradas

Do motor estático

Que perde sua força motriz.


Fechas os olhos e tudo se esvai

Abaixas as pálpebras

E me presenteias com o gelo das horas

Assim te fazes: guardiã dos absolutos

Aquela que desvirtua os mutáveis

Que violenta meus horizontes

Que me dá a poesia

Vivida, chorada, cantada.

Mas não escrita.


Eu vejo que não gostas de poesia

Mas tu, para que gostar?

Transpiras fermento da mente dos poetas

Fertilizas a semente das imaginações

És o irrigar das inspirações.


Te tornaste a lavoura dos meus versos

Onde o trabalho é minha religião

E o colher é meu cristo


És uma presa

Inalcançável ao instinto predatório

Inestimável a tua matilha que és tu mesma.


Passeias pelos vales dos meus olhos

Onde o seguir-te não é opção

Onde o querer-te não é voluntário.


És um verso torto e sem rima

Eivado de beleza ferina

Onde a tua cor castanha

Divina e humana

Faz de meu amor por ti, doce criatura

O mais belo bem libertador.

Paulinho

01/06/2011