terça-feira, 30 de outubro de 2012

Salto ao solstício


São os teus olhos espremidos pelo sono
Ou as sobrancelhas que delineiam a beleza vasta da tua graça
Ou seria a forma dos teus dentes que reluzem no barro de solidão da tua boca
Poderia ser a forma um pouco vulgar e clichê das curvas do teu pescoço
Ou inclusive poderiam ser as cores dos teus olhos que emanam uma espécie de poesia italiana
Cheia de lagrimas, remorsos, alegrias, regozijos e o brado do teu belo.

Eu te observo sem que saibas
Vejo na tua pele em cera
A cultura que a mim não pertence
Alcanço nos registros de tuas movimentações pelo tempo
A calma e a arritmia dos versos que transpiras.

É, meu bem, nasceste poética
Em rubro desejo dos versos latinos

Teu corpo se comporta como pena
Pintando, escrevendo, riscando, gravando, gritando
No papiro da vida os versos sufocados pela falta de olhos alheios

Mas meus olhos são teus, te decifro, te busco
Nos números dispensados das aulas
Nas formulas sensatas ou irracionais das poesias
Procuro tua forma no embalo dos sonetos que saem do teu caminhar

Estás longe de ser Alexandrina, longe da forma exata
Longe de ser inteiramente decifrada por mim
Iniciei agora o desvendar do teu enigma

És poesia ambulante,
Que cria, nasce, cresce, marca, morre, vive, canta e recomeça
A forma como tornas o corpo tem a letra dos mares chorosos, azuis, e negros
Em tuas mãos perfumadas e pálidas repousa o barro da minha construção
Que tenta esculpir-te, dar-te a forma dos meus sonhos.

Que forma tem meus sonhos?
Tomaste de assalto a imaginação de um poeta
Agora todos os meus versos te seguem como fogo-fátuo de inspiração

Ah meu bem, quando me apareceres em pessoa
Serás o solstício da minha vida
Quando a luz estará bravejando em teimosia
E não deixará de existir antes que queira
Sem respeitar qualquer ordem natural
A pura rebeldia das forças que evocas.

És colheita e plantação dos sonhos das minhas palavras.
És o negrito e o sublinhado dada a parte mais importante de um verso
És onde os olhos devem repousar e não mais perceber o mundo em volta.

-Paulinho Tamer
30/10/2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Festa da vida

Grande o homem é em reconstrução
Tijolos e massas em emoções decaídas
Reverberando na alma o som de uma tristeza indecente

A calma já não me pertence
Nem o desespero me assola
Em estado sem sentido, sem conceito
Sem a definição de uma construção
Pois as mãos suam quando surge a necessidade de definir-me
E os domingos suicidas parecem começar a fazer sentido
Aos olhos pobres do homem ainda cheio de vida
E ainda há muita vida pelos ares externos à minha caixa de aflição

Há muita vida para desistir da vida
Pois a vida, assim como o coração do poeta
É sem definição e sem possibilidade de mensuração
A vida é sempre enorme e é vida, ainda que pouca.

-Paulinho Tamer
27.10.2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O PÉ DA MÃO PRECISA




Musa bailarina, leve te deslizas
Rodas, saltas, bela; gestos, movimento
Pétalas se soltam, voam pelo vento
Pairam sem sentido, como minhas vidas

Pesa o meu olhar, desaba rumo ao chão
Leve o meu amor, toma-o como um par
Baila bem com ele, pois não sei bailar
Bruto, peso e penso; só sei ser Platão

Nem suspeitarás do par que te acompanha
Pela solidão solista do ballet
Números no fundo: música à dança

Rege em três por quatro valsa dividida
Um, por dois, a toca. Tu, ponta do pé.
Eis quem te acompanha: minha mão precisa