quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Manoela

Amarela
Quase bronze.
De canela
Pensa longe.
Sem segredos,
Despudorada.
Não tem medos,
Vale nada.
Manoela...menina.
Minha bela! Me nina.
Noite é dela,
Rebolado
Piscadela:
Encantado.
Levo vela,
Vou na procissão.
Tirem dela,
O meu coração.
Manoela...menina.
Minha bela, me nina...
Ela é bela,
Enfeitiçado.
Manoela,
Sou casado.
Vou-me embora
Ou enlouquecer.
Mundo afora,
É melhor correr.
Manoela...menina.
Minha bela, me nina...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vai e vem


A doce harmonia que desagua no desespero
A agonia dos corpos nus, dilacerados, contorcidos
No doce deslinde da paixão.

O sacrifício das purezas, das inocências
Em prol do unir peças em pura vida
No quadrante deslocado dos olhos embriagados

Pois o corpo mareja nas mãos, nos olhos
Pelos poros guarnecidos de movimento
Pois foi assim que saiste de mim
Como um resto
Como o dejeto do que já fora consumido

Arranquei cada pedaço de pele teu colado em meu âmago
Prostituido pelo teu egoísmo sincero e brilhante
Agitado pelo embalo da tua triste vontade incontornável
Que desmonta um monumento de paciência

Tirar-te de mim deu-me mais prazer do que enxertar-te em minha vida
O amargo de perder-te é mais doce que ganhar-te

Suei-te de mim,
Como um desintoxicar de alma
Como um purificar dos olhos refreados por dor
Como um expurgo de paixão que não cabia em mim

-Paulinho Tamer
08/11/2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Salto ao solstício


São os teus olhos espremidos pelo sono
Ou as sobrancelhas que delineiam a beleza vasta da tua graça
Ou seria a forma dos teus dentes que reluzem no barro de solidão da tua boca
Poderia ser a forma um pouco vulgar e clichê das curvas do teu pescoço
Ou inclusive poderiam ser as cores dos teus olhos que emanam uma espécie de poesia italiana
Cheia de lagrimas, remorsos, alegrias, regozijos e o brado do teu belo.

Eu te observo sem que saibas
Vejo na tua pele em cera
A cultura que a mim não pertence
Alcanço nos registros de tuas movimentações pelo tempo
A calma e a arritmia dos versos que transpiras.

É, meu bem, nasceste poética
Em rubro desejo dos versos latinos

Teu corpo se comporta como pena
Pintando, escrevendo, riscando, gravando, gritando
No papiro da vida os versos sufocados pela falta de olhos alheios

Mas meus olhos são teus, te decifro, te busco
Nos números dispensados das aulas
Nas formulas sensatas ou irracionais das poesias
Procuro tua forma no embalo dos sonetos que saem do teu caminhar

Estás longe de ser Alexandrina, longe da forma exata
Longe de ser inteiramente decifrada por mim
Iniciei agora o desvendar do teu enigma

És poesia ambulante,
Que cria, nasce, cresce, marca, morre, vive, canta e recomeça
A forma como tornas o corpo tem a letra dos mares chorosos, azuis, e negros
Em tuas mãos perfumadas e pálidas repousa o barro da minha construção
Que tenta esculpir-te, dar-te a forma dos meus sonhos.

Que forma tem meus sonhos?
Tomaste de assalto a imaginação de um poeta
Agora todos os meus versos te seguem como fogo-fátuo de inspiração

Ah meu bem, quando me apareceres em pessoa
Serás o solstício da minha vida
Quando a luz estará bravejando em teimosia
E não deixará de existir antes que queira
Sem respeitar qualquer ordem natural
A pura rebeldia das forças que evocas.

És colheita e plantação dos sonhos das minhas palavras.
És o negrito e o sublinhado dada a parte mais importante de um verso
És onde os olhos devem repousar e não mais perceber o mundo em volta.

-Paulinho Tamer
30/10/2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Festa da vida

Grande o homem é em reconstrução
Tijolos e massas em emoções decaídas
Reverberando na alma o som de uma tristeza indecente

A calma já não me pertence
Nem o desespero me assola
Em estado sem sentido, sem conceito
Sem a definição de uma construção
Pois as mãos suam quando surge a necessidade de definir-me
E os domingos suicidas parecem começar a fazer sentido
Aos olhos pobres do homem ainda cheio de vida
E ainda há muita vida pelos ares externos à minha caixa de aflição

Há muita vida para desistir da vida
Pois a vida, assim como o coração do poeta
É sem definição e sem possibilidade de mensuração
A vida é sempre enorme e é vida, ainda que pouca.

-Paulinho Tamer
27.10.2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O PÉ DA MÃO PRECISA




Musa bailarina, leve te deslizas
Rodas, saltas, bela; gestos, movimento
Pétalas se soltam, voam pelo vento
Pairam sem sentido, como minhas vidas

Pesa o meu olhar, desaba rumo ao chão
Leve o meu amor, toma-o como um par
Baila bem com ele, pois não sei bailar
Bruto, peso e penso; só sei ser Platão

Nem suspeitarás do par que te acompanha
Pela solidão solista do ballet
Números no fundo: música à dança

Rege em três por quatro valsa dividida
Um, por dois, a toca. Tu, ponta do pé.
Eis quem te acompanha: minha mão precisa

sábado, 7 de julho de 2012

Interpretação fenomenológica do poema "Pelo o Bem das Crianças", de Felipe de Campos Ribeiro. (Por Ricardo Evandro S. Martins).


O belíssimo poema do músico e poeta Felipe de Campos Ribeiro inicia seu "discurso" com indagações. De Campos Ribeiro, assim como um filósofo, parte, já no primeiro verso da estrofe (1), com questionamentos acerca da ideia do "Bem" e do "Tempo". Tais indagações são enfrentamentos. De Campos Ribeiro trata sobre o "Bem" ao lado do "Tempo". O poeta pergunta-se sobre a possibilidade de haver qualquer paralelo entre "Bem" e "Tempo". O "Bem" posto ao lado do "Tempo" é um valor ocidental e moderno. A ideia de que as virtudes correm no tempo de maneira crescente é típica do onirismo da modernidade. Logo nos versos seguintes, o poeta confirma tal assertiva ao perguntar-se sobre a possibilidade de uma "paripassidade" entre o "Bem" e o cavalgar dos acontecimentos históricos. É de fácil compreensão a ideia de "Bem" como valor, como virtude, isto é, como "meta". Mas ainda permanece a questão sobre o "Tempo". O próprio "Tempo" nesta estrofe (1) é tratado como o "tempo moderno": retilíneo e progressivo.  Como um "Tempo" que não retorna. Um "Tempo" que anda pra frente conforme a sapiência dos "homens". Felipe de Campos Ribeiro questiona, finalmente, se os homens farão o desenvolvimento no decorrer do "Tempo". Com esta indagação o poeta enfrenta a suposta possibilidade  de haver "paripassidade" entre a sapiência, representando a ideia de "Bem", e o "correr das horas" do "Tempo",  mostrando-se como "Tempo" enquanto sucessão de "presentes", antecipado pelo progresso tecno-científico e biopolítico.

Na segunda estrofe os questionamento são cessados, ao menos de maneira explícita. Neste momento poético, Felipe de Campos Ribeiro passa a usar algumas figuras simbólicas, forjando algumas metáforas: "Os lobos procuram carne..." e os "...cordeiros procuram letras...", afirma o poeta. Os "lobos", aqui, mostram-se como animais vorazes em busca de "carne", de "vida". São figuras de poder e com poder. A "carne" é o símbolo do sangue, da proteína, do calor, do alimento vital.  E a "fome" dos "lobos" é a vontade de se apoderar de algo ou de alguém. O objeto da "fome", contudo, não é re-velado. Mas, daí, o poeta parte para falar dos "cordeiros". Seriam os "cordeiros" as presas dos "lobos"? Mas que "cordeiros" são estes? O que fazem no texto poético de Para o Bem das Crianças


Os "cordeiros" são tradicionalmente simbolizados como dóceis e sacrificáveis. Também são representados em rebanhos. Eles estão sempre em coletivo. O rebanho é a condição de sobrevivência do "cordeiro", pois os "lobos" estão à solta nas "noites negras". E os "cordeiros", no texto, são antropomórficos. Eles sabem ler. Procuram letras. Os "cordeiros" precisam de um Pastor. O rebanho não se arrebanha por si mesmo. É preciso uma liderança. Um discurso-guia para acalmar os "cordeiros" diante dos "mistérios" noturnos.  Aqui, nesta estrofe (2), é possível ver dois tipos que vagam pela noite: um, feroz, voraz, faminto de vida; e, outro, pacificado, liderado e faminto de liderança discursiva, procurando "letras" (como as "letras" bíblicas e de éticas laicas).


Porém, os dois tipos expostos no poema podem tratar-se de um licantropo. Os dois tipos podem tratar-se de um só símbolo. De um homem-lobo. Parte "cordeiro", parte "lobo". Trata-se de um "cordeiro-lobo", como a representação do homem e sua ambiguidade. Um homem pode ser "cordeiro" (faminto de doutrina) e do mesmo modo um "lobo" (autossuficiente, apesar de também poder estar em matilha, pois, mesmo com toda sua "força de vontade", o lobo está sempre infantilizado pela sua oralidade, já que tem "vontade de comer", procurando um "corpo" para botar dentro da boca, o que lhe deixa emocionalmente imaturo). 


A "Noite", então, surge como ela é: misteriosa. E, pelos mistérios, espanta. A "Noite" joga com o ocultamento das coisas e com o ocultamento de si.  Ao mesmo tempo que pode ser o avesso da verdade enquanto alethéia, a noite pode ser o próprio caminho para o dia, isto é, para o des-ocultamento causado pela luz do dia. Assim, a jornada pela noite, em que só participam os corajosos, ainda que dentro de um rebanho ou caçando como um lobo, pode levar ao nascimento da hora do des-ocultamento de um dia que não esconde. Portanto, a noite pode ser um via para a verdade enquanto alethéia (aquilo que não está oculto).

Só no estrofe (3) que o "menino" emerge explicitamente. Antes dets estrofe (3), o poeta questionou como um filósofo, tipificou como um psicólogo e, com isto, contextualizou o ambiente "noturno" da infância como um poeta. Desse modo, Felipe de Campos Ribeiro fala de um "menino". Um "menino" que dorme profundamente, enquanto os carros ("lobos"?) passam por ele atrás de alguma coisa ou de alguém. Segundo o poeta, os carros passam sem pena, sem empatia, enquanto dorme o "menino". A vida cotidiana, dos afazeres, dos compromissos, dos deslocamentos de carros, das coisas banais que temos que fazer no dia a dia, acabam por passar pelo "menino" que dorme na calçada. Na mesma estrofe surge alguns questionamentos, porém, menos contestadores e mais sugestivos: há "moral" neste mundo? De quem é a "moral" que fala-se tanto? Quem tem a 'moral'? Quem é o "-se" do "fala-se"? 


Na estrofe (4), é possível perceber a rapidez dos centros urbanos, as luzes, e efemeridade dos acontecimentos, que funcionam como características de uma modernidade tardia ou mesmo de uma pós-modernidade, onde os sonhos são feitos de neon, engolindo a pre-sença (existencia) do "menino". Sua pré-sença no mundo, enquanto ser-no-muno, é marcada, logo a seguir, na estrofe (5), pelo a situação de abandono. O "menino" tem como mundo o espaço que não é dele. Um mundo (a calçada) que não foi projetado para ser sua morada. E, dormindo na calçada, o "menino" está coberto por um jornal. Aqui, é perceptível o mundo industrial onde o "menino" vive, mas que, em contrapartida, não pôde oferecer "facilidades" nem o "'Bem'-estar" prometido pela industrialização para com sua existência. O jornal como cobertor é a própria rapidez com que o útil-de-ontem torna-se inútil-no-presente. As notícias estampadas pelo seu corpo de nada podem fazer para com à sua existência. Nem a publicidade do letreiro, as notícias ruins e a publicidade política no jornal...


"Nada" pode salvar o "menino"... 


Quanto à salvação, o poeta nas estrofes (6) e (7) passa a ironizar a doutrina-guia dos cordeiros(-lobos). A lógica que faz os carros, reabilitada pela lógica de uma razão prática, é/foi incapaz de "cuidar" deste ser-outro que é o "menino". Felipe de Campos Ribeiro ataca, outra vez, e ironicamente, as vãs tentativas dos "cordeiros-lobos"  de cuidar do "menino", assim como da vã culpa dos "cordeiros-lobos" pela falha. Especificamente na estrofe (7), o poeta ironiza os "atos falhos" do homem laico/ateu que insiste em recorrer à Quem ele mesmo fora o assassino. "Reclame ao Estado, altivo", o poeta diz, soando como um "Querem reclamar? Reclamem para si mesmo". 


O poeta pede para que não chorem pelo "menino". A apatia não tem retorno. O poeta chega a agredir estes homens (8). Chama-os de "modernos fracos". Estes homens - nossos homens de agora - acovardaram-se. Enfraqueceram-se depois da morte de seus reis e de seu Deus. Os modernos, posteriormente, foram abandonados pelo "ser". Caminho natural, inclusive. E diante do deserto que se expande, o poeta ressalta a ilusão da insistência para com as metas laicas, frias, técnicas, mecânicas e burocráticas. "Não adianta..." discursar e gesticular, diz o poeta. O Pastor abandonou os homens. Nem sabem mais se são eles os "cordeiros" ou se são os "outros" os "lobos". O que fazer quando estão por si mesmos? O falatório impessoal dos discursos normativos, ideológicos, e dos imperativos  categóricos, darão conta? Pois, mesmo que se fale livremente via doutrinas, calando o silêncio...Mesmo que se crie mecanismos, querendo encontrar o problema do lógos... No fim das contas, retornarão estes homens ao "Othon" (Hotel): morada passageira, calma, distante e hedonista (10). 


Por qual o motivo a militância? O que querem os "nobres" desta "cidade"? Sendo ainda mais explícito, o que querem os "nobres" de Belém, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Fortaleza, de Porto Alegre?  O poeta, então, acusa-os de "cordeirinhos". Animais necessitados de discursos-guia. Animais necessitados de acolhimento e cuidado, do mesmo jeito que o "menino" necessita. Felipe de Campos Ribeiro vai mudando, portanto, o tom nas estrofes seguintes, mas permanece com o tema do abandono, cuidado e proteção (11). 


O "ser pede proteção", diz o poeta. Em verdade, no mundo do "menino" do poema, o "ser", enquanto "meta", "princípio", "valor", abandonou os homens. Assim, o "ser" que pede proteção no poema não trata-se do "ser dos entes em geral" que abandonara o homem, mas sim do "ser" dos homens, quer dizer, as suas próprias "existências". São os homens que pedem pela proteção perdida e não "ser" enquanto valor, meta ou princípio. O "ser", repito, enquanto existência dos homens, é quem pede proteção. Foi o sentido da sua "existência" que esvaziou-se pelo abandono do "ser" enquanto valor. E no falatório escondem-se. Impessoais. Imersos na generalização do cotidiano (12, 13, 14).


 Como se vê, o significado do símbolo do "menino" des-protegido passa a ter outro sentido. O "menino" sem cuidados simboliza os próprios homens abandonados pelos seus próprios princípios (16). O poeta começa a "re-velar", como uma memória re-memorizada/re-significada, que os de maior idade ainda são "meninos". "Meninos" perdidos. E que agora vivem sem "Eros". Sem "amor". Sem tesão à vida.  E esta re-lembrança é despertada pelo questionamento acerca do "Nada". Qual a função do "Nada" se não a de nos re-lembrar do "inexperenciável"? O "Nada", no sentido existencial, é a nossa finitude. A re-cordação da nossa finitude nos causa angústia. A nossa insuficiência perante o "Nada" inevitável e o fato filosófico de termos sido abandonados por alguém ("Um Pai sempre há na trama...") nos causa angústia, ansiedade. E antes que queiramos criar outros mecanismos para salvar o "menino", lembremos que é o "menino" aquele quem pode nos salva em tempos de deserto. 
Todavia, lembra o poeta Felipe de Campos Ribeiro, apresentando uma outra "ética", somente aquele que puder lagrimar pelo "menino", ou seja, aquele que puder ter cuidado por si e pelos outros, saindo da apatia e da indiferença, é quem poderá salvar-se (17, 18, 19, 20). 


Felipe De Campos Ribeiro é um poeta questionador do que está estabelecido, sem dúvidas, mas também um questionador de si. Pois pergunta-se, quase que ironicamente (...), como se estivesse duvidando de si (e está), quem poderia ser o "Cristo"? Quem poderia ser um cordeiro a ser sacrificado em prol da salvação de si mesmo?  


O poeta ainda pergunta-se se pode haver moral no universo. Ele pergunta pelo motivo d'ele insistir, por meio da Arte poética, em ainda falar em "salvação", "meninos", "Bem" e "Tempo". Felipe de Campos Ribeiro chega a perguntar aos leitores diretamente pelo motivo dos mesmos estarem lendo esse poema! Seriam para salvarem-se?  Para não chorarem? Mas, como? Haveria algo neste mundo para sentir? O poeta, então, re-toma para si e para os leitores o tema do "Bem" e do "Tempo. Mas, agora, condicionando-os. Se os valores ("Bem") não avançam (no "Tempo"), então que, ao menos, salvemos as nossas crianças/"meninos" cobertas pela nossa indiferença e pelo cotidiano jornalístico que é apatizante com nós mesmos e com os outros.


Por fim, Felipe de Campos Ribeiro tenta adivinhar o que passa-se com os leitores. Pergunta se há "nós" nos "corações de pedra" dos leitores. Neste trecho, o poeta faz um trocadilho entre o substantivo "nó" (como, por exemplo, um "nó de corda"), que está no plural, e o pronome da segunda pessoa do plural, "nós", o que, por consequência, possibilita que encontremos outro sentido à pergunta do poeta: haveria alguém, qualquer pessoa com que convivemos ou que somos, cordeiros e/ou lobos, residente em nossos corações? Se nós não pudermos responder esta pergunta, o poeta, ao menos, pede para que ouçamos a música. Pois a Arte é um acontecimento da verdade. Da verdade sobre "nós". 






Por Ricardo Evandro S. Martins. Em 07/07/2012.




terça-feira, 5 de junho de 2012

Pelo Bem das crianças


poema interpretado e atuado no dia 26.05.2012 pelo ilustre Vitor Nina em meu primeiro Pocket Show "com vós, sem voz, eu vou".


O Bem e o avançar do tempo
Acaso são paripassos?
Os homens, sempre mais safos
Farão desenvolvimento?

Os lobos procuram carne
Cordeiros procuram letras
Mistério das noites negras
Espanta quem nada sabe

Menino em sono profundo
Dopado, padece só
Os carros passam sem dó
Há mesmo moral no mundo?

As luzes se cruzam rápido
As sombras se esticam lentas
E somem na urbana cena
Ao pé do menino esquálido

Calçada de pedra é cama
Degrau de briu, travesseiro
Descalço, sob o letreiro
Que pisca, um jornal é fronha

Mas homens são sempre lógicos
Os carros são prova disso
Em nome de imperativos
Cordeiros são categóricos

Não chorem pelo menino!
Paixão aqui, deus o livre
De Deus já são todos livres
Reclame ao Estado, altivo

Reclamem, modernos fracos
Se iludam nesta mentira
Que insiste em bondade fria
Regidas por laicos laços

Estufem-se triunfantes
Levantem o indicador
Discursem com todo o ardor
Em seus ternos elegantes

Indiquem onde falha o lógus
Que falta às autoridades
Que tratam mendicidades
Depois, vão jantar no Othon

Que raio de militância!
Os versos servem pra isso?:
Sem dó, escachar os vícios
Dos “nobres” dessa cidade?

Tais “nobres”, desalentados
No fundo são cordeirinhos
Forjaram um novo cantinho:
O rol dos arrazoados

O Ser pede proteção
O nada é o terrível drama
Um Pai sempre há na trama
Seu nome atual: razão

Cordeiros tapam os ouvidos
E apelam: “lá lá lá lá”
Recusam-se até o olhar
E batem pé já franzidos

Mas um paradoxo plana:
Quem crer-se em maior idade
Pra, são, governar cidade
Agora está igual criança

Pra que servem estes versos?
Não servem eles pra nada
Se lembram o que o Nada causa?
É tudo muito complexo

Há algo a lhes revelar
Meus caros homens sem Eros
Pretensos morais sem credo
Não, minto, lhes relembrar!

Crianças, pois, todos foram
Só hoje têm embaraços
Desculpem-me pelo lapso
Escutem, antes que morram:

Eis tudo bem cristalino:
Menino só vai salvar
Aquele que derramar
Seu pranto pelo menino

Menino padece às pedras
Os carros e os discursos
Discorrem-se em seus percursos
Porém, corações de pedra

Mas quem poderá ser Cristo
A ponto de a todo o instante
Sem medo e não hesitante
Salvar um novo menino?

Talvez não exista mesmo
Bondade ou moral nos cosmos
Talvez quando eu feche os olhos
E durma, vá tudo a esmo

E sonhe novas errânças
Pra que mesmo serve isto?
Por que na vã arte insisto?
Talvez pra salvar crianças

Que vagam em vagas lembranças
E voltam a todo o instante
Fisgando-me inquietante
Aí por essas andanças

E vós, que fazeis aqui?
Vieram pra se salvar
Na fuga de não chorar?
Ou há algo pra sentir?

Se o Bem não há nem avança
Intrínseco aí no mundo
Salvemos, ao menos, fundo
A nossa própria criança

Há nós na garganta em ti?
Há “nós” em teu coração?
Permite esta noite, então
Que a música cante assim...

sábado, 10 de março de 2012

Perfume de livro.

Para Torres Moraes,


Perfume de livro,
calma estação.
Me corta a brisa
com tua voz.
Por trás, vens
sem te revelar.

Me corta a brisa
com tua timidez.
De frente, te fito.
Tu corres teus olhos ao chão.

Me corta a brisa,
com o doce da tua voz.
Te reconheço.
Não sei por quanto tempo.
Te cheiro.
Teus olhos correm aos meus.

Me corta a brisa
com o teu perfume:
Perfume de livro
papel e tinta;
Perfume de poema
cabelo e voz;
Perfume de roupa,
algodão, azul, abissal;
Perfume de abraço,
sonho e mansidão.

Me corta a brisa
com teus sonhos....
...Que agora são meus.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Dia feito de noite,
Palácio de chuva e nuvem,
A côrte por vir.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Nunca mais, Vinícius de Moraes



Criado no Samba da Benção, batizado em Oxalá
Caboclo juramentado do Norte
Amigo, Saravá!
Passo para dizer que estou de saída
Sem recaída, nem bater congá
Só quero também que lhe diga
Sem remorso nem gira
Essa história que vou lhe contar

Perdido em dança de briga
Em amor de guaíba, na beira do cais
Conheci um poetinha que atendia pelo nome
Do amor e da fome
Seu Vinícius de Moraes

Consumia tudo ao prazer da hora
O peito ia se escorrendo, era plena madrugada
Apontando para a noite,  ele falava aos olhos da amada
Passei então a fazer tudo o que ele faz
Nunca mais, Vinícius de Moraes!

Brincando de Deus mambembe,
Voltei meus olhos ao encanto, fiz do riso, o meu pranto
Soprando no mundo minha própria criação.
 Desde então, já não tive paz
Nunca mais, Vinícius de Moraes!

Numa doce canção de veludo e de dor
Tateei a face da noite estrelada
Acusando em bruma os ouvidos da amada
Deixando toda a eternidade para trás
Quanta ilusão, Vinícius de Moraes!

Aspergindo angústia como gotas de orvalho
Fiz nascer o amor como quem faz a ruína. O fiz?
Na espera da morte, fiz ladrilhar minha sina
Na hora íntima, nem o encanto preenchia mais
Quanta dor, Vinícius de Moraes!

E então recoberto de vãs palavras
Atravessava a alma com um copo de mesa
Dizia à torto “amor”, sem ter certeza
Brincava de amor para sempre, como quem brinca de pira-paz
Não quero mais, Vinícius de Moraes!

Quero tocar o amor como quem tinge o girassol
Sentar-me à a aurora e contemplar o arrebol
Deixando que penetre em mim o calor da eternidade.
Um tempo que desmanchando não desfaz
Nunca mais, Vinícius de Moraes!

Quero andar  por aí com a amada
Como andam as aves cegas
Guiadas somente pelo luzeiro do Sagrado Coração
Ver o mar batendo nas pedras, querendo ser pedra
Que sobrevive à passagem da estação

E então nossos beijos serão levados como espuma
Nossos caminhos serão selados como pluma
Pelo Santo sacramento do altar
E quando eu a vir caída
Já não quererei voar

Nem mesmo o momento de espera abate
Ao peito que Nele mora
A amada tem seus medos e sua hora
Meu ímpeto persevera
Meu coração se refugia em silêncio

E então a minha amada será para mim
E eu serei para a minha amada
E não haverá desejo que se venha a deter
À irresistível ternura das vidas
Que cansadas, desistiram de sofrer

Quero voltar deste lugar e te contar
Essas coisas e outras coisas mais
Não te quero, mas não te abandono, meu amigo
Meu pobre amigo
Vinicius de Moraes. 

David Carneiro, 2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Minha cidade, caminhada

Felipe de Campos Ribeiro em 07/02/2012

Segunda década do século XXI, Belém, seis de fevereiro, duas e tantas da madrugada: fui andar. Para onde? Fui andar. Atormentado pela noite de insônia – pelas angústias das incertezas do futuro, da não realização dos sonhos, da vida acomodada, da solidão – um medroso vai à rua; simplesmente para andar, sentir o vento suave da noite, olhar a luzes, a calmaria, uns raros carros (que, volta e meia, vêm trazendo ao longe seus ruídos que vão paulatinamente aumentando de volume e paulatinamente diminuindo).
            De fora – apenas com minha chave no bolso, e mais nada (nem mesmo um lenço ou um documento)! - cuidadosamente bati a porta do apartamento. Tomei o elevador. Desci. Atravessei a portaria acenando gentilmente (porém, ao mesmo tempo, compenetradamente) ao porteiro (meu bom amigo violonista Nelson). Abri a porta de vidro do meu prédio antigo (que, porém, se esmera ao máximo –com reformas – para ser moderno) e pisei na rua. Eis, lá, eu, em pé: na José Malcher, em frente ao Hotel Regente, momentaneamente parado (com uma mão ainda tocando a maçaneta externa de um prédio provincianamente velho/novo e dando rapidamente uma olhada nas estrelas do céu) por uns cinco segundos. Então, parti em direção à praça.
            Desde criança, sempre fui acossado por um misterioso encantamento pela calmaria e densidade da noite. Porém, sempre que comentei - no inevitável círculo pequeno burguês em que vivo – sobre minha fascinação em caminhar noite adentro, ouvi vozes amedrontadas tecendo as mesmas previsíveis recomendações: “olha... cuidado! Sabes como está a violência e esses bandidos por aí..”; ou até, simplesmente “tu és é doido de fazer isso, menino!”. Minha mente nunca se deixou muito levar por tais repetições de pessoas que, provavelmente, em sua maioria, nunca tiverem experiência semelhante. Tenho certeza de que suas intenções são as melhores, porém, meu espírito tem um quê de estrangeiro ante a tal círculo. “Estrangeiro”: eis a melhor metáfora que sou capaz de sinteticamente materializar em palavra para exprimir um turbilhão tão infinito de “estrangeirismo” inominável que carrego. O que importa é que nunca tive medo de enfrentar a noite; as ruas de Belém; os pequenos acontecimentos - de uma certa rotina da noite sub-mundana desta cidade - que, se ninguém passasse e os visse, se desvaneceriam para sempre no universo. Sempre fui convicto de que, um homem que sai andando de chinelos, uma bermuda e uma blusa meio velha em plena madrugada belenense, dificilmente será acometido por algum perigo. Quem quiser me julgue louco.
            Larguei a maçaneta, olhei para frente e saí andando. A madrugada estava silenciosa. Os raros ruídos dos carros iam chegando e se afastando. As luzes todas acesas, a rua deserta. Então, aos pouquinhos, fui verificando que era deserta apenas para os desatentos. Em frente a uma grande loja de automóveis (Honda Veículos), encostado entre o chão e as grades da frente da mesma, embrulhado em papelões, dormia um homem; um homem negro e bastante magro (foi tudo o que consegui ver). Uma grande, imponente e luxuosa academia de ginástica (Pelé) dormia do outro lado da rua, com suas luzes todas apagadas. No entanto, reparando bem, só quem não dormia eram seus hercúleos seguranças (não sei bem se propriamente hercúleos ou se, na verdade, meio gordos[1]). Eram três desses homens que estavam lá: dois sentados em cadeiras e um em pé, com o glúteo meio gordo encostado num corrimão. Antes de minha presença, parecia-me que conversavam despojadamente. Na medida em que fui aproximando-me e cruzando com eles, pararam por um momento e ficaram a me observar. Também olhei para eles. Eles me olhavam e, eu, andando, olhava para eles. Quando passei, parece que tudo voltou ao estado de antes (para ambas as partes).  
            À frente, ao longe, das luzes da praça, vinha em minha direção um solitário homem pedalando sua bicicleta bem rente à margem do asfalto. Na medida em que se aproximava, me era mais nítido: tratava-se um senhor moreno de cabelos brancos, aparência humilde (chinelos, calça de pano, blusa quadriculada de botões de mangas curtas) e pedalando uma bicicleta toda incrementada. Esta era preparada para vender lanches: café, pães e tapiocas (foi o que me pareceu). Quando ele, à pedaladas lentas, cruzou comigo, trocamos “Boa noite!”. Ele passou. Alguns segundos depois paralisei-me maravilhando ante ao deslumbrante Palacete Bolonha[2], situado ao outro lado da pista.
            Para ser mais exato, o palacete situa-se em uma esquina da José Malcher com outra rua bem estreita, preservada ainda em estilo antigo: toda em pedras. Uma curiosidade lancinante fustigou-me para esta rua. Era tão próxima de minha residência! Eu já havia passado por ela, porém nunca a havia explorado até o fim. Como isto era possível? Não tive dúvidas: atravessei a rua em sua direção. Durante a travessia, olhei em direção a todo o trajeto que já havia feito. O humilde senhor da bicicleta estava parado junto aos seguranças gordinhos da academia. Vendia-os cafés, pães e tapiocas (a diretoria da academia bem que poderia disponibilizar seus serviços aos seus seguranças!).   
            Adentrei a rua estreita. Ela era um pouco mais escura, porém lindíssima! Repleta de casas bonitas, pessoas morando. Logo à entrada desta vila, ao lado direito, há um prédio largo e alto de quatro andares que funciona como um albergue. “Amazon International Hostel” estava escrito em uma placa. Eu nunca suporia a existência de tal estabelecimento bem ali, um vizinho à minha cara. No terceiro andar acontecia uma farrinha: vozes falavam em inglês, um violão tocava qualquer música ruim e uma voz não muito afinada – talvez um pouco bêbada – cantava igualmente ruim. Por algum motivo, eu sorri. Sorri bastante. Aquela pequena bobagem era muito engraçada ao meu espírito curioso e explorador daquele momento, sabe-se lá por que. Fui passando e cheguei ao “fim da vila”.
Descobri um pouco mais de minha tão bela e tão feia cidade. Ao final da rua estreita em que eu estava, dobrando para o lado esquerdo, havia uma enorme continuação. A pequena primeira reta em que eu entrara – a do Palacete - terminava bem nos fundos de um prédio (prédio este que tem sua frente voltada para a rua Beijamin Constant). Ao lado direito deste fim de linha, uma rua que saia diretamente também à Beijamin Constant. Tudo isso eu já sabia. Porém, neste mesmo fim de linha, ao olhar para o lado esquerdo, me aturdi. Há ali uma vila enorme com varias casas, todas bastante grandes. Sem hesitar, rumei para a esquerda.
Carros importados estacionados nas grandes garagens me impressionaram naquela pequena vila bem ao centro da cidade (onde uma calmaria soberana reinava). Era como se aquele poderoso império todo (econômico) estivesse literalmente escondido, bem atrás do Palacete Bolonha (não é curioso?). Eu estava ali. Quem era eu? Ali, àquela hora? De repente, em minha intuição foucaultiana, logo atinei: “devo estar sendo vigiado neste exato momento!”. Acertei na mosca, praticamente como que em uma premunição: ouvi um assovio vindo lá do fim a primeira rua (de onde eu tinha vindo). Olhei para trás. Um guarda noturno vestido de perto[3] segurava um cassetete e me olhava. Ele estava um pouco longe, mas parece que me olhava feio (no mínimo com séria desconfiança). Senti-me avassaladoramente indignado em ser, por aquele brutamonte, convidado ao constrangimento simplesmente por estar andando livremente pelas ruas da minha cidade. Aquilo seria uma rua particular? Seus poderosos moradores gostariam de viver - “na marra” - protegidos das mazelas nas quais todos nós vivemos em Belém? Não aceitei! Destemidamente, fiz, com uma mão, um sinal ao brutamonte; um sinal para que ele esperasse, pois eu iria continuar andando. Virei de costas a ele e continuei na mesma direção de antes.
Cheguei ao final da vila (sim, desta vez era o final mesmo, não havia saída). Entre as grandes e luxuosas casas que ali existem, há no final da vila, uma ainda maior e mais luxuosa (que se destaca arrogantemente ante as primeiras): uma mansão, com lindo jardim na entrada e um alto portão preto duplo. Em ambas as abas do portão, duas grandes letras talhadas em maiúsculo, cor dourada e em fonte gráfica exageradamente estilizada pomposamente[4]: RM. Eis minha mais indignante surpresa. Ali entendi tudo. Entendi quem provavelmente seriam os patrões daquele pobre guarda. Aquela abordagem era mesmo bem característica da “política” de seus prováveis patrões.
Me virei novamente ao guarda brutamonte. Ele estava parado do mesmo jeito de antes (cassetete na mão), porém dessa vez, mais desconfiado e impaciente do que nunca. Fiquei plantado por alguns segundos em frente à grande mansão olhando também para ele, no afã de provocá-lo um pouco. Por um estranho e irracional prazer, deixei se arrolar este momento muito tenso. Não sei se faria isto novamente, mas naquele instante não temi a nada, apenas gozei. De repente, comecei a percorrer o caminho de volta. Lá estava eu andando em direção ao brutamonte. Ele, intacto. A medida em que me aproximava, eu o olhava nos olhos inquebrantavelmente. Ele fez o mesmo, e no tenso trajeto de volta, não houve palavra.
Apenas quando estávamos cerca de sete metros um do outro, falei com a voz firme: “não se preocupe, amigo! Moro ali no prédio e só to andando por aqui mesmo”.
Ele, ainda desconfiado, respondeu: ”não tem saída pra aí não”.
“eu sei. Eu só tava conhecendo mesmo aqui”.
Foi quando ele rispidamente retrucou tornando claro seu poderio: “conhecendo?” – e sorriu sutilmente – “Te manda logo, rapá! To te olhando daqui!”.
Ignorei sua resposta imponente e, como se nada tivesse acontecido, perguntei em adendo: “amigo, de quem é aquele casarão lá do final?”.
Provavelmente ele ficou impressionado com isso (lhe seria, no mínimo, incomum), porém não demonstrou isso. Apenas lançou seu ultimato: “borá! Passa, rapaz!”.
E eu finalmente me despedi: “seu guarda, não vou fazer mau pra ninguém. sou só um cidadão andando na rua, viu? Mas vou ‘passar’ que nem um cachorro pra não apanhar”.
O brutamonte então, como se em um segundo passasse a confiar em mim, me surpreendeu: “não leva a mal aí não... é que agente tem que proteger a vila”.
Dessa vez, foi eu que, embora bastante surpreendido, não transpareci. Já de costas a ele, sem nem mesmo olhá-lo mais, finalizei definitivamente: “e a vila, te protege?”.          
Saindo dali ainda andei bastante. Peguei a Benjamin e rumei até a esquina do Midori, dobrei à esquerda na rua desta esquina (uma rua tão pouco usada que nem seu nome lembro) em direção à praça. Chegando nesta, circulei um pouco pelas luzes e finalmente sentei em um banco já no corredor das mangueiras, próximo ao sempre saudoso Bar do Parque. Por mais de hora, pus-me a olhar o movimento (da praça para a Presidente Vargas, o movimento é sem duvidas maior): taxistas, prostitutas, mendigos, dois meninos de rua, um “cachorro quente” aberto. Em uma pessoal paz filosófica ali fiquei - em baixo de grandes mangueiras, de grandes histórias, de grande cultura, de grandes desigualdades, de grandes injustiças – a contemplar a cidade que ia amanhecendo e acordando aos pouquinhos. 



[1] Assim são os seguranças paraenses: se amarram num açaizão com peixe do “veropa”.
[2] Palacete construído em estilo art noveau, com características clássicas da época do Ciclo da Borracha (Belle Epoqué). Foi idealizado pelo arquiteto Francisco Bolonha em 1905 para presentear sua esposa, a pianista carioca Alice Tem-brink. Já foi residência de pessoas da alta sociedade paraense (comerciantes do ciclo da borracha) e já funcionou como sede da Prefeitura de Belém.
[3] Não duvidaria se na costa de sua blusa preta estivesse escrito a risível palavra “apoio” e na manga curta do braço, uma pequena bandeira do Pará estampada (muito engraçado: apoio paraense para descer pancadas nos marginais excluídos que ousarem se aproximar dos poderosos decadentes.
[4] Para imprimir intimidadoramente sua superioridade ante a tudo e a todos, e assim, exatamente aí, expor sua estupidez e mesquinharia.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Verdade Primeira

Investigo-me a consciência.

Livra-me do amanhecer, noite das dúvidas.

Reforma-me em sons agudos e timbres harmoniosos.

Ah, dúvida dos homens,

Construam homens sem dúvidas


Questionar-me em minha guerra

É realizar-me de paz e verdade

E encher-me do terror do conhecimento.

Conhecer dá medo,

Mais medo é não conhecer o medo.

Paz ou guerra?

Escolho ambas como minha cama.

Estar em paz por conhecer,

Estar em guerra com o revelado.


E assim me sinto em campo,

Em uma paz em estado permanente

E uma guerra em estado latente.

A guerra dos homens é não conhecer,

A paz do espírito é não conhecer a ignorância,

Apenas a calmaria da verdade.