terça-feira, 5 de junho de 2012
Pelo Bem das crianças
poema interpretado e atuado no dia 26.05.2012 pelo ilustre Vitor Nina em meu primeiro Pocket Show "com vós, sem voz, eu vou".
O Bem e o avançar do tempo
Acaso são paripassos?
Os homens, sempre mais safos
Farão desenvolvimento?
Os lobos procuram carne
Cordeiros procuram letras
Mistério das noites negras
Espanta quem nada sabe
Menino em sono profundo
Dopado, padece só
Os carros passam sem dó
Há mesmo moral no mundo?
As luzes se cruzam rápido
As sombras se esticam lentas
E somem na urbana cena
Ao pé do menino esquálido
Calçada de pedra é cama
Degrau de briu, travesseiro
Descalço, sob o letreiro
Que pisca, um jornal é fronha
Mas homens são sempre lógicos
Os carros são prova disso
Em nome de imperativos
Cordeiros são categóricos
Não chorem pelo menino!
Paixão aqui, deus o livre
De Deus já são todos livres
Reclame ao Estado, altivo
Reclamem, modernos fracos
Se iludam nesta mentira
Que insiste em bondade fria
Regidas por laicos laços
Estufem-se triunfantes
Levantem o indicador
Discursem com todo o ardor
Em seus ternos elegantes
Indiquem onde falha o lógus
Que falta às autoridades
Que tratam mendicidades
Depois, vão jantar no Othon
Que raio de militância!
Os versos servem pra isso?:
Sem dó, escachar os vícios
Dos “nobres” dessa cidade?
Tais “nobres”, desalentados
No fundo são cordeirinhos
Forjaram um novo cantinho:
O rol dos arrazoados
O Ser pede proteção
O nada é o terrível drama
Um Pai sempre há na trama
Seu nome atual: razão
Cordeiros tapam os ouvidos
E apelam: “lá lá lá lá”
Recusam-se até o olhar
E batem pé já franzidos
Mas um paradoxo plana:
Quem crer-se em maior idade
Pra, são, governar cidade
Agora está igual criança
Pra que servem estes versos?
Não servem eles pra nada
Se lembram o que o Nada causa?
É tudo muito complexo
Há algo a lhes revelar
Meus caros homens sem Eros
Pretensos morais sem credo
Não, minto, lhes relembrar!
Crianças, pois, todos foram
Só hoje têm embaraços
Desculpem-me pelo lapso
Escutem, antes que morram:
Eis tudo bem cristalino:
Menino só vai salvar
Aquele que derramar
Seu pranto pelo menino
Menino padece às pedras
Os carros e os discursos
Discorrem-se em seus percursos
Porém, corações de pedra
Mas quem poderá ser Cristo
A ponto de a todo o instante
Sem medo e não hesitante
Salvar um novo menino?
Talvez não exista mesmo
Bondade ou moral nos cosmos
Talvez quando eu feche os olhos
E durma, vá tudo a esmo
E sonhe novas errânças
Pra que mesmo serve isto?
Por que na vã arte insisto?
Talvez pra salvar crianças
Que vagam em vagas lembranças
E voltam a todo o instante
Fisgando-me inquietante
Aí por essas andanças
E vós, que fazeis aqui?
Vieram pra se salvar
Na fuga de não chorar?
Ou há algo pra sentir?
Se o Bem não há nem avança
Intrínseco aí no mundo
Salvemos, ao menos, fundo
A nossa própria criança
Há nós na garganta em ti?
Há “nós” em teu coração?
Permite esta noite, então
Que a música cante assim...
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