São os teus olhos espremidos pelo sono
Ou as sobrancelhas que delineiam a beleza vasta da tua graça
Ou seria a forma dos teus dentes que reluzem no barro de
solidão da tua boca
Poderia ser a forma um pouco vulgar e clichê das curvas do
teu pescoço
Ou inclusive poderiam ser as cores dos teus olhos que emanam
uma espécie de poesia italiana
Cheia de lagrimas, remorsos, alegrias, regozijos e o brado
do teu belo.
Eu te observo sem que saibas
Vejo na tua pele em cera
A cultura que a mim não pertence
Alcanço nos registros de tuas movimentações pelo tempo
A calma e a arritmia dos versos que transpiras.
É, meu bem, nasceste poética
Em rubro desejo dos versos latinos
Teu corpo se comporta como pena
Pintando, escrevendo, riscando, gravando, gritando
No papiro da vida os versos sufocados pela falta de olhos
alheios
Mas meus olhos são teus, te decifro, te busco
Nos números dispensados das aulas
Nas formulas sensatas ou irracionais das poesias
Procuro tua forma no embalo dos sonetos que saem do teu
caminhar
Estás longe de ser Alexandrina, longe da forma exata
Longe de ser inteiramente decifrada por mim
Iniciei agora o desvendar do teu enigma
És poesia ambulante,
Que cria, nasce, cresce, marca, morre, vive, canta e
recomeça
A forma como tornas o corpo tem a letra dos mares chorosos,
azuis, e negros
Em tuas mãos perfumadas e pálidas repousa o barro da minha
construção
Que tenta esculpir-te, dar-te a forma dos meus sonhos.
Que forma tem meus sonhos?
Tomaste de assalto a imaginação de um poeta
Agora todos os meus versos te seguem como fogo-fátuo de
inspiração
Ah meu bem, quando me apareceres em pessoa
Serás o solstício da minha vida
Quando a luz estará bravejando em teimosia
E não deixará de existir antes que queira
Sem respeitar qualquer ordem natural
A pura rebeldia das forças que evocas.
És colheita e plantação dos sonhos das minhas palavras.
És o negrito e o sublinhado dada a parte mais importante de
um verso
És onde os olhos devem repousar e não mais perceber o mundo
em volta.
-Paulinho Tamer
30/10/2012