Eu nasci eivado em solidão
Composto pela matéria alva do individual
Procurando em meio a olhos
A ridícula companhia da vida
Eu me encontrei no aperto confortável do peito
Na doença leve da alma
E na suave natureza solitária que aceitei ser minha
A ponta dos meus dedos é gelada
Sem nenhuma pretensão de tocar outra pele
Com pouca intenção de reformar a mim mesmo
Nem mesmo de fraturar a solidão alheia
Eu sou o que sou
De natureza individual
Sem companhia suficiente
Sem outro ser humano correspondente
Assim eu pensava
Mas não mais assim vejo
Vejo agora o aparecimento de doenças antigas
Seguindo de forma cogente a lei da cura
Troquei instintivamente
A suavidade da solidão
Pela dureza amável da companhia
Mas e minha natureza?
Onde fica?
Não era eu o homem auto-suficiente?
Não era eu o que independia do próximo?
Não era eu aquele que negava a fraternidade da minha natureza?
Não era eu aquele que investigava o âmago alheio
Com olhos de besouro e compaixão de lobo?
Que olhava o outro como uma peça de um estratagema lógico?
Não há sentido nisso tudo
Me recompus enquanto ser humano
Mas me indaguei o dilema de minha natureza
Como poderia eu ser um ser fraterno?
Como poderia eu ser companheiro?
Como poderia eu ter companhia?
Eu me conhecia pela solidão inveterada
E, na doçura do amadurecimento,
Me vi assim
E vi assim
Que não há natureza que possa me compelir
A ser algo diferente de meus sonhos.