terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sísifo

Vicent Van Gogh



Da primeira vez que ouvi teu nome
Não te amei como se amam as rosas do campo
Foste caindo em pétala feito chuva
Encharcando agora como luva a verde relva

Hoje, amada, teu nome é um perfume
Que derrama lume em meu caminho torto
Nele, ladrilhei pedrinhas de brilhante
No mesmo instante em que meu peito caiu morto

És minha lira,
Corro atrás de ti como num sonho
Num vai e vem que se desfaz a todo instante
Que retorce o peito em vasto e negro túnel
Ou mesmo em calda de estrela cintilante

Assim és porque és a um só tempo
Luz e escuridão,
Meu torpor e meu tormento
(A hora é preciosa, minha amiga!)
Escuta meu lamento!

Mas foges de mim assim
Como de Deus eu mesmo vou fugindo
(E é só por isso que na escuridão te encontro)
E nela vou te seguindo
A escuridão, esta íntima amiga
Parte teu rosto em pó e fio brilhante
Vou bebendo tua ausência inebriado
Mas basta ver-te e tudo recomeça...
Já és para mim a brisa da fontana
Tenha pressa!

Teu corpo é meu refúgio e meu abrigo
Tua loucura minha angústia e minha calma
Quero pintar girassóis para teus olhos
E de perfumes encharcar a tua alma

Ah querida amiga! Não perguntes se desejas
Já desistimos nesta vida ter verdade
Já desistimos nesta vida ter certezas
Ah meu amor, você já pode se afobar
Não existem futuros amantes
Nem amor que não seja para já
A dúvida é uma uva que encosto
Lentamente em tua boca
Minha louca! Minha amiga!

Esconjuro eu que não te amava
E nem beleza em ti então havia
Quero contar como cheguei a ver-te
Ou não ver-te como te vi um dia
Tu és o último dia da criação,
Que só neste instante fez sentido
Contemplo-te agora debaixo da árvore de sombra fresca
Desmentido.

Qual o quê, minha amiga?
Nosso amor é uma tarde clara,
A brisa em espiral e ousadia
Nosso amor é pôr-do-sol, amada!
Recolhas o arrebol desses teus olhos
O laranja que contemplas deslumbrada
Tudo por querer-te amor amor
E por não querer e querer-te enfim
Minha amiga, minha namorada!

Quero te amar, assim, em silêncio
Num momento calmo, fazer loucuras de amor contigo
Quero estar sempre e sempre ao teu lado
Quero ser teu refúgio e teu abrigo

Quero sentir teu beijo, fazer amor sorrindo
Quero ser teu amante e teu amigo
Nosso amor nasceu da mais profunda comunhão da alma
Se sou para ti e és para mim, minha amiga...
Não tenha mais calma!

Apressa-te! Venha comigo
Quero mostrar-te o quanto a vida é bela
Quero vazar em lágrimas tuas mãos
E ser pro coração tua janela

Depressa, teu pai já acordou
Vem com o teu amor!
Ele mesmo sorriu quando te viu contente
A sombra das nossas mãos que se tocaram
Nossos olhos que brilharam de repente.

Já não há o que temer
Nem sofrer de tanta espera
Mesmo que não ame te amando
Mesmo que te ame de tão bela.


David
14/12/2010

5 comentários:

  1. "Vou bebendo tua ausência inebriado
    Mas basta ver-te e tudo recomeça..."

    lindo isso! parabéns pelo belo poema, David.
    :)

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  2. Meu, amigo...

    que coisa mais linda!!

    Só te digo isso!

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  3. Ain!!!! Ainda acho um homem assim... heheheh

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  4. Lindo seu poema, só um homem com sensibilidade e com alma iluminada para fazer um conjunto de palavras, a combinação perfeita para descrever o amor!

    Nada melhor do que o amor, que purifica o coração, a alma a mente, e tornar a vida mais preenchida e colorida!


    Sortudo esta "amiga" do poema :)

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