quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A cidade do João

A cidade do João

Na mesma noite em que o mundo chorou Levi-Strauss
E a cidade perdeu Verequete
Eu perdi o João
João e os direitos humanos
João e os Nós Outros
João e o Haikai
Ivã Karamazov quis pedir o bilhete da vida de volta
Ele não viu nenhuma peça do João
Ele não viu a cidade do João

E agora todos eles dizem que não entendem
Mas eu te entendo perfeitamente meu amigo
Meu querido amigo João. Logo quem?
Tu que já nasceste com pressa para os adeuses
E mais do que todos nós viveste
Porque foste muitos e porque te lançaste nessa vida
Como se teus minutos andassem para trás e pra frente
Com alguma geometria que só tu entenderias

E essa ferida que agora deixaste em nossos peitos
O que é isso João?
Em nada lembra a amarga vida contida no medo
Mas passeia sobre os nossos olhos como os sonhos mais puros
Sonhos que foste em vida e eternizaste com a tua morte.
Tas vendo João? Nos fazes sofrer como quem ensina a cantar
Mas pra que falar da tua morte?
Tu que cantaste a Internationale
Tu que fizeste promessa de fita e cumpriste
Tu que te apaixonaste silenciosamente

Jamais diria isso para tua pobre mãezinha João
Que hoje terá que enterrar o filho querido
Mas sei que não morreste jovem nem morreste cedo
Porque não foste tragado pelos dias
Tu dobraste o próprio tempo, tu foste teu próprio tempo
Tu foste duro João! E duro te vais sem dar satisfação
Como viveste...
Impunemente. Não tens vergonha João?

Hoje passeio solitário pela tua cidade, pela cidade do João
Mês de Outubro já passou, passaram-se os dias de alegria e fé
O amor que vinha não veio
A novidade também não veio
Mas sinto em mim uma estranha força.

Quem viu alguma peça do João Jamais sentiu vontade de pedir
[o bilhete da vida de volta.

David Carneiro
no triste 04 de Novembro de 2009


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