sábado, 20 de novembro de 2010

Andando em Copacabana

As pernas já cansadas e rua após rua nada de eu achar Copacabana. Já estava lá, inclusive alojado em um apertamento de um amigo; porém, andava e me perguntava: “onde está a bela e pura Copacabana que eu esperava ver?” E assim seguia, atravessando-a do leme à ipanema em busca da sua velha beleza.

Durante diversos dias caminhei por lá: seja ao léu, seja indo pegar um metrô, procurar sebos, comer... e, além dos encantos das construções antigas, só víamos idosos, proletários e turistas. E aquele ar leve que eu esperava, nada. O bairro parecia ter envelhecido junto com seus moradores.

Estava com três amigos, e com eles fui à lapa, ipanema, botafogo, barra; em boates, bares, as recorrentes padarias, praias... Por acaso num domingo à noite resolvemos caminhar por Copacabana, sem destino fixo. Seguimos até perto da divisa com o Leme – infelizmente. Por lá só víamos prostitutas, casas de striptease, velhinhos explorando garotos de quinze anos e até sofremos uma tentativa de assalto. Copacabana realmente não era a mesma dos livros, histórias e da minha imaginação.

Certo dia dois de meus amigos foram à UFRJ, onde estudavam pela manhã, e permaneci com o outro na casa. Saímos para almoçar e nos dispersamos – ele foi ao cinema e eu em busca de sebos; já estávamos desacreditados sobre o bairro. Vasculhei coisas baratas e voltei ao apertamento para aguardar, enquanto lia um livro, a chegada deles.

Fiquei lendo por uns vinte minutos, até que um som começou a me intrigar. Fui à janela e procurei um volumoso violão. O quarteirão, que era formado por prédios antigos, que não possuíam nada além dos apartamentos, deixou um espaço vazio no seu meio; e no centro desta blindagem de concreto ficava uma casa com saída pelo edifício onde eu estava. Era uma casa simples, mas muito charmosa; chamava a atenção desde cedo, pois o patriarca a cada nascer do sol descia e, por conta própria, fazia prazerosamente a reforma do muro. Outro charme da casa eram os diversos gatos; chutaria haver uns 8, de todo tipo – o suficiente para nosso amigo entendido de gatos sentir o aroma deles do terceiro andar.

Mas o que importava mesmo acontecia no segundo andar da casa. Lá uma senhora, provavelmente esposa do reformador, estava sentada diante de duas outras senhoras dispondo de seus violões; e deles emanava uma forte e inesperada música que eu chutaria ser medieval. Entre uma música e outra lá estava eu, na janela, o privilegiado ouvinte apreciando o som que quebrava a monotonia do bairro.

Já havia abandonado meu livro e sentado diante da janela aguardava as próximas músicas, como em um verdadeiro show. Aquela casa era praticamente fechada pelos prédios, e eu não ouvia nenhum som de outros apartamentos, por mais próximos que fossem; o resultado da acústica era fenomenal! Ouvia a melodia ecoar pelo cômodo inteiro como uma verdadeira sinfonia. Empolgado comecei a imaginar quem seriam tais mulheres: teriam sido conhecidas musicistas aposentadas? Teriam acompanhado grandes artistas? Ainda tocam por aí? Ou apenas curtem a velhice como lhes convêm? Enquanto pensava, de súbito o concerto acabou e, depois de alguns dias, o meu passeio também; voltei sem saber quem são as violonistas cujo lirismo me contagiou. Mas uma coisa eu posso dizer: sei muito bem quem me apresentou à verdadeira copacabana – tão suave e bela quanto eu esperava.

Um comentário:

  1. Gilberto,

    Lindo texto. Que imagens...Me deste nestes últimos 3 minutos uma passagem pro Rio, que eu ainda não conheço...Ou melhor, acho que agora já conheço...

    Parabéns GilGui.

    ResponderExcluir