domingo, 17 de abril de 2011

CORDEL DO HOMEM DA NOITE


Criança eu queria a noite

Poeta sou de nascido

O pinho peguei de ouvido

Malandro, fugi do açoite


A noite hoje é criança

E o tempo me fez cachorro

Que gosta do som do choro

Da moça que o amor balança


Na doce ilusão dos goles

Afogo-me na imprudência

Garganta sente a ardência

De amargas bebidas torpes


Sou jovem, me sinto forte

Tem muito, dá pra gastar

Um trago não vai matar

Sem medo brinco com a s(m)orte


Me atrevo, me entrego aos vícios

Seresto na madrugada

Na boa fina vanguarda

De um Baden e de um Vinícius


Soberbo por entre os bares

Sobraço meus bons poetas

Gular, dentre outros profétas

Declamo altivo aos ares


Um pingo de álcool molha

A pagina aberta à mesa

Brindou roda viva sexta

Alegres todos em volta


A voz de um de nós da roda

Irrompe percuciente

Por entre os murmurios quentes:

"Salve boemia nossa!"


Na roda há linda moça

Que fito não sem maldade

Mais jovem, que bela idade

Vou dar-lhe uma boa bossa


Tem só dezenove aninhos

Seus olhos respondem aos meus

Seu corpo, obra de Deus

Já cabe nos meus carinhos


Direito, faz faculdade

Porém, o que hoje precisa:

De um bom professor da vida

Que ronde pela cidade


E olhar que dá trela a cão

É rápido enternecido

Pois, cão, de olhar bandido

Derrete bom coração


O cão se dirige a ela

Mansinho, um beijinho clama

Um "sim" dá desfecho à trama

É pinta nova paquera


Com dedos entrelaçados

Cachorro e sua nova dona

E esta reluz em chama

Se vão do bar enlevados


Agora, sós, no recinto

O cão será bon seller

E a moça será mulher

Farei e não me ressinto


Farei pois, se hoje não faço

Aí pela madrugada

Madrugam bons vira latas

Que fazem se o outro é fraco


Voltando ao nosso recinto...

Está tudo uma penumbra

Silêncio, uma catacumba

Molhado seu beijo sinto


Sem pressa, lhe mostro o pinho

Do bag saltei pra fora

Um pouco sua face cora

No braço ela faz carinho


Com dedos lhe toco as cordas

Produzo-lhe um som gostoso

Deleita-se ela em gozo

Penetro-lhe a bossa nova


Balanço cadenciado

Dá ritmo aos nossos corpos

Vermelha, ela fecha os olhos

Eu toco já extasiado


Sussurro-lhe ao pé do ouvido

Cantando minha crianção

É quando, de supetão

Seu roso abre um sorriso


A quem causei hoje um auge

De amor de uma bossa nova

Depois, quando eu for embora

Vai só cantar de saudade


A música dela foi-se

Pra sempre não toco a ela

Olhando pela janela

Pra sempre só toco à noite


Nenhum comentário:

Postar um comentário