Criança eu queria a noite
Poeta sou de nascido
O pinho peguei de ouvido
Malandro, fugi do açoite
A noite hoje é criança
E o tempo me fez cachorro
Que gosta do som do choro
Da moça que o amor balança
Na doce ilusão dos goles
Afogo-me na imprudência
Garganta sente a ardência
De amargas bebidas torpes
Sou jovem, me sinto forte
Tem muito, dá pra gastar
Um trago não vai matar
Sem medo brinco com a s(m)orte
Me atrevo, me entrego aos vícios
Seresto na madrugada
Na boa fina vanguarda
De um Baden e de um Vinícius
Soberbo por entre os bares
Sobraço meus bons poetas
Gular, dentre outros profétas
Declamo altivo aos ares
Um pingo de álcool molha
A pagina aberta à mesa
Brindou roda viva sexta
Alegres todos em volta
A voz de um de nós da roda
Irrompe percuciente
Por entre os murmurios quentes:
"Salve boemia nossa!"
Na roda há linda moça
Que fito não sem maldade
Mais jovem, que bela idade
Vou dar-lhe uma boa bossa
Tem só dezenove aninhos
Seus olhos respondem aos meus
Seu corpo, obra de Deus
Já cabe nos meus carinhos
Direito, faz faculdade
Porém, o que hoje precisa:
De um bom professor da vida
Que ronde pela cidade
E olhar que dá trela a cão
É rápido enternecido
Pois, cão, de olhar bandido
Derrete bom coração
O cão se dirige a ela
Mansinho, um beijinho clama
Um "sim" dá desfecho à trama
É pinta nova paquera
Com dedos entrelaçados
Cachorro e sua nova dona
E esta reluz em chama
Se vão do bar enlevados
Agora, sós, no recinto
O cão será bon seller
E a moça será mulher
Farei e não me ressinto
Farei pois, se hoje não faço
Aí pela madrugada
Madrugam bons vira latas
Que fazem se o outro é fraco
Voltando ao nosso recinto...
Está tudo uma penumbra
Silêncio, uma catacumba
Molhado seu beijo sinto
Sem pressa, lhe mostro o pinho
Do bag saltei pra fora
Um pouco sua face cora
No braço ela faz carinho
Com dedos lhe toco as cordas
Produzo-lhe um som gostoso
Deleita-se ela em gozo
Penetro-lhe a bossa nova
Balanço cadenciado
Dá ritmo aos nossos corpos
Vermelha, ela fecha os olhos
Eu toco já extasiado
Sussurro-lhe ao pé do ouvido
Cantando minha crianção
É quando, de supetão
Seu roso abre um sorriso
A quem causei hoje um auge
De amor de uma bossa nova
Depois, quando eu for embora
Vai só cantar de saudade
A música dela foi-se
Pra sempre não toco a ela
Olhando pela janela
Pra sempre só toco à noite
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