quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A cor dos olhos 2

Mas também não quero fazer-te nenhuma profecia. Nem de sábia, nem de astronauta ou bailarina, mas, pensando melhor, acho que uma bailarina não iria nada mal, mas tudo bem. Deixa apenas que eu te veja surgindo, brilhando, sorrindo e também chorando, prometo que não vou mais sentir medo. E se eu sentir, apenas segure a minha mão como fazes hoje por reflexo, até porque acalmar o medo daqueles que amamos também deveria ser um reflexo das gentes grandes, mas isto já é outra história que um dia te contarei se me prometeres ser uma boa menina.

A verdade é que agora que te fito e te tenho nos meus braços fico imaginando o que era o mundo antes de ti e o que serás para o mundo quando já não couberes mais nos meus braços desajeitados. É certo que não crescerás. Verei por várias e várias vezes uma nova mulher surgir dentro de ti e prometo amar a cada uma delas, reservado o meu direito de perder a paciência, reclamar dos atrasos, do mau humor, dos namorados vazios e, principalmente, das bobagens que tão o tom de qualquer beleza feminina.

Também quero que me escutes sempre. Que rias ou preste grave e circunspecta atenção às minhas engenhosidades, utopias ou planos mirabolantes. Que te deleite em risos com as minhas histórias e até que brigues comigo depois que souberes dos meus causos amorosos. Sei muito bem o que vais dizer. Escutarás-me com toda atenção e com uma cara desconfiada, se eu estiver mal, sentirás até pena, mas ao final dirás que eu não presto e que os homens são todos iguais. Mas sei que depois, pensando sozinha, me perdoarás e verás que, no final das contas, sempre tenho um bom motivo para fazer as coisas do jeito que faço. Mesmo assim, prometo não abusar, até porque preciso dar-te um bom exemplo. E é por isso que eu te ensinarei a rezar o “santo anjo”, a fazer sinal da cruz e a fazer promessas para São Francisquinho dos pobres.

Levar-te-ei também para passear e te contarei histórias, nem todas verdadeiras, mas de toda a forma interessantes ou engraçadas, só para que penses no mundo do teu jeito, que aches as tuas próprias respostas e siga teu próprio caminho, mas confesso que não acharei nada mal se em tudo concordares comigo. E depois de tudo isso, como me doerá se nada souberes sobre mim e se a vida me afastar do teu caminho, caminho que vi nascer como quem espera a anunciação do milagre. Darás teus primeiros passos, escreverás as primeiras letras, desabrocharás para os primeiros amores e sonharás com o mundo, eu estando ou não estando contigo. É quando penso que inútil sou eu, que nada sou perto de ti e dessa tua vida que tem o mundo todo pela frente! Não sou e nem serei nada perto do teu infinito, da tua promessa, da tua calma. Mas se deixares e se quiseres, mandarei ladrilhar nos teus caminhos as mais bonitas pedrinhas da poesia e do amor divino. E então, te seguirei distante e encantado com teus passos, desenhando paisagens e personagens no teu caminho. E quando estiveres triste, verás um arco-íris, um pássaro cantador e rio bonito perto de ti, somente para que sorrias e sinta forças para seguir em frente. E então, por um minuto, pensarás que algum anjo te observa, te vela e te livra de todo o mal. Eu não sou esse anjo. Não posso ser esse anjo. Mas rezarei para ele agora e sempre. Amém.


Por David Carneiro, em 9 de Dezembro de 2009.

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