quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A morte e a Vida.

Um dia ela vem e com ela levará todos os nossos prazeres, nossas felicidades, nossas tristezas, nossas peripécias: diante do Absoluto o que era pra ser já foi e não tende a se repetir no desenrolar do tempo fluido, tende a ser esquecido e impronunciável por aqueles que um dia sonharam e sempre hão de sonhar em viver em um lugar melhor, já que somente estes são os que lembram do que já fora escrito na história, e estes mesmos que sempre buscam viver em permanente potência e transcendência. Há fatos e Fatos históricos, os primeiros são marcados pelo esquecimento advindo do Absoluto, os segundos servem para reanimar as almas dos seres históricos, os primeiros animam os prazeres da carne, os segundos agitam e rejuvenescem os seres anímicos valorizando os seus espíritos. Uns se esquecem, outros eternizam-se. Uns se preocupam em não sofrer, outros entendem o sofrimento como a divisão entre Céu e Inferno, os primeiros são maus, os segundos são Bons. E por aí as vicissitudes históricas marcam o constante viver dos homens: ser esquecido ou se tornar eterno? Ser imanente pelos prazeres baixos ou transcender o Absoluto? Ser vil ou ser Bom?

A vileza advém em não se ter respeito pelo intrínseco problema do morrer e da passagem que em muitos é pueril por esta vida. Quem se lembra da obra poética mais vendida em 92? Em se crer mais do que se é, derespeitando todas as possibilidades do tempo, o passado, o presente e o futuro. O nascer, o viver e o morrer. Do sentido histórico da vida, das responsabilidades morais do presente e do que se fazer com o que já vai acabando?

Por que Beethoven quando escutou a música de sua copista chisteou? Porque o que ele criava vinha diretamente de Deus e passaria enquanto houver ser-humano a temporalidade de sua vida. Por que se chora quando se escuta 9ª sinfonia? Porque quando se está preparado o espírito entende os significantes eternos da vida humana entronizadas por esta supra-humana música. Não é questão de ser chata, de ser coisa de metido a intelectual, pedante e outras variantes, é simplesmente a vida espiritualizada ao seu extremo. É o sentir, entender, e transceder os valores materialistas da vida que se vive. É tocar o Absoluto. É sussurrar no ouvido da morte que ela pode ser mais do que comumente se entende: como o fim último e limitante do ser-humano. Quando para Beethoven, na verdade, era exatamente o início da sua eternidade.

O que se falta para existirem outros Beethovens? Colocar em nossas cabecinhas que somos uns joãos-ninguéns, participar do espírito advindo da natureza, respeitar os outros, e, acima de tudo, entender que a morte é só o começo para quem não quer ser esquecido. Que esta vida, no beirar dos 100 anos acaba, e a eternidade é a-temporal. Que os prazeres da carne, enquanto não forem envolvidos pela sublimidade do amor, estão marcados pelo eterno-retorno do sofrimento humano, que daí só pode advir esquecimento, nada mais. Que vivemos numa sociedade marcada por valores mórbidos que só com muito trabalho poder-se-á construi-lá melhor. Um trabalho para a vida inteira, seja na arte, na política ou nas ciências. Algo que possa frutificar o espírito que já vem se esmaecendo desde o início da modernidade. Precisa-se de Vidas dispostas a salvar a humanidade do alvoroço da vida sem sentido e do conseqüente esquecimento pleno. Do materialismo prenhe da perdição do eu, dos valores que embrutecem o que há de mais Divino no humano que é a racionalidade. Somente pelo pensamento correto podemos vivenciar uma experiência digna de sentido, e, somente com isso, podemos marcar o tempo com os nossos nomes.

4 comentários:

  1. Pedro!!Muito bom!
    Filosofia pura!
    achei legal a aprte dos prazeres da carne sem amor, o que nos levaria para um eterno retorno...

    Nietzsche e seus enigmas...tão difíceis de serem compreendidos, tão perto de nós para serem respondidos...

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  2. Bom texto, boa argumentação. Só discordo de uma coisa: o que há de mais Divino no humano que não é a racionalidade, mas a capacidade de sentir. Ainda que fugaz, ainda que subjetiva, a capacidade de sentir é nossa maior dádiva e nosso maior castigo. Porque é através do que sentimos, ainda que muitas vezes não entendamos, que alcançamos o Absoluto. E a razão, sem o sentimento do amor, é bruta, inanimada. E é também o sentimento que nos impulsiona ao pensamento correto, ao trabalho, à atemporalidade.Assim intuo.
    Bjs.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Mas o teu próprio sentir advém de um pensar de tal ou qual forma, como o teu pensamento sobre a tua sensibilidade te permiti crer, ou seja, pensar, que através da sensibilidade que tu tocas o Absoluto. Há racionalidades e racionalidades, escolho para mim aquelas que me fazem crer na vida, as outras, esqueço.
    bjsss :**

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