sábado, 28 de agosto de 2010

Kafka, o niilismo e "O processo"

Embora não tenha terminado de ler todas as obras de Kafka, farei uma análise demonstrando o quanto esse autor é mal compreendido, o que de fato sempre é falado quando alguém tenta interpretá-lo, utilizarei três livros, os “Diários” do próprio autor; uma interpretação socialista feita por Leandro Konder; e o romance “O processo”.

Primeiro vou partir de uma afirmação de que o autor é com toda a certeza judeu. Por quê? Isso fica evidente no seu diário quando em várias partes dele o autor pensa como um judeu, em qual sentido? Em buscar as soluções da religião judaica à época. Ficando claro nesse trecho: “Deverá dizer a si mesmo que – falando sobre os leitores de uma obra sobre a história de judeus de sua época-, principalmente após o surgimento do sionismo, as possibilidades de solução estão de tal modo evidentemente agrupadas em redor do problema judaico, que afinal de contas basta o autor fazer apenas um movimento para achar a solução que dá resposta à parte do problema.”. Ora, é bastante razoável que um membro de uma dada religião esteja preocupado sobre o futuro de sua própria religião, como, por exemplo, um cristão apoiar ou desapoiar o que tem sido as conseqüências do Concílio Vaticano II. Portanto, é falso quando Leandro Konder diz em sua obra Kafka “Vida e Obra” que “Apesar de uma tremenda necessidade de crer em algo, Kafka jamais chegou a encontrar paz de espírito em qualquer fé ou em qualquer Igreja.”. Tal como ele Leandro mesmo encontrara nas suas utopias salvadoras da humanidade... Mas partimos à obra “O processo”.

No final do livro, que é o que mais ajuda a esclarecê-lo, K., o acusado, entabula uma conversa com um Sacerdote, dizendo no início sobre a disponibilidade e preocupação desse mesmo Sacerdote em relação a ele “Você é muito amável comigo... Tenho mais confiança em você do que em qualquer um dos outros tantos que já conheço...”. Veremos aonde esta tal confiança irá ser levada logo adiante.

Em uma parábola narrada por este Sacerdote ao processado "K." um homem do campo, que logo em seguir afirmarei que é um niilista ou o próprio "K.", que tenta entrar nos domínios da Lei, ou seja, no mundo jurídico, é impedido de adentrar neste mesmo local por um porteiro que é um simples operador do Direito, não diminuo essa importância, pois fazer isso, seria tomar uma atitude niilista, já vou me explicar, que como fala o Sacerdote “foi incumbido pela lei de realizar um serviço; duvidar de sua dignidade seria o mesmo que duvidar da lei.”, um pouco mais atrás o mesmo Sacerdote fala que tal serviço é “incomparavelmente mais do que viver livre do mundo”. Quem seria esse homem livre no mundo senão um livre-pensador e que por isso mesmo é niilista? Já explico. O Sacerdote tal como o Aliócha são os seres-humanos em que acreditam profundamente em alguma coisa e por isso afastando-os da falta de valores niilista, vêem as coisas claramente no sentido de que, o primeiro, de entender que o porteiro não faz mais do que executar o seu trabalho como participante do mundo jurídico, e o segundo, de ser fiel à verdade religiosa - na verdade, ambos o são, mas estas são as principais caracacterísticas deles expostas nos dois romances -. Portanto há dois pares de personagens que são o extremo oposto tanto nos “Os irmãos Karamázov” quanto no “O Processo”, quais são? O Sacerdote e o Aliócha como os não-niilistas e K. e Ivan Fiódorovitch como os que negam qualquer validade à vida, o primeiro morre como um cão “era como se a vergonha devesse sobreviver a ele” e o segundo fica louco.

E por que K. é niilista? Porque como o Sacerdote lhe falou “não é preciso considerar tudo como verdade, é preciso considerar apenas como necessário...”. O que é o necessário? Crer, apesar de todas as suas falhas, na extrema importância do mundo jurídico às nossas vidas. Como um bebezinho mimado o niilista K. refuta “A mentira se converte em ordem universal...”. Ora, o positivista é aquele que nos sonhos crê no progresso, o que certa hora acabará por tornar-se também cético, já que o progresso não é constante, e o socialista é aquele que parte do princípio que o mundo é o pior dos possíveis buscando a salvação da sua vida em um projeto utópico, o que já é, de início, a negação de viver o presente, e de encontrar possibilidades de valores vivíveis. Ambos, são niilistas. Falo tanto do positivista quanto do socialista pois são arqui-presentes desde o início da ilustração.

Lembrem-se que o niilismo é a negação de valores orientadores à vida, e a sua principal característica é o não reconhecimento de valores tanto para si quanto na vida dos outros. Com “K.” não foi diferente. Diferentemente do início no qual deposita confiança na ajuda do Sacerdote, e após este ter demonstrado a ele como as coisas funcionam, ou seja, o caráter necessário de um operador do Direito, “K.” lhe fala “mas eu não consigo me orientar sozinho no escuro”, e mais adiante “antes você foi tão amável comigo, explicou-me tudo, mas agora me despede como se eu não significasse nada para você”. Ora, isso não é atitude de um garotinho de 12 anos que requer tudo para si e não aceita que os com quem tem inimizades brinquem de futebol com ele? Antes, o Sacerdote era reconhecido como um homem bom, ou seja, até o momento em que este serviu para o consolo da mente perturbada de K., embora não tenha sido um consolo já que para “K.” só a morte funciona, porque nada para ele é válido e quer continuamente fazer os outros crerem nisso, agora, como o homem religioso era reconhecido por K.? “Você é o capelão do presídio”, somente como um trabalhador qualquer, sem nenhuma ordem hierárquica de valores, que é o niilismo. K. disse-lhe “você precisa compreender” ao que o Sacerdote responde “Você precisa primeiro compreender quem eu sou!.” O niilista K. no seu não reconhecimento da vida religiosa do Sacerdote e da necessariedade do Direito é somente aquele que não reconhece a importância dos valores superiores à vida. Pondo em miúdos, não compreender o que é um sacerdote, o que per si requer uma atitude respeitosa e o que é o Direito são atitudes niilistas.

Embora no último capítulo “K.” comece a reconhecer quão desnecessário fora ter entendido o mundo por uma lente reprovativa, como um bom niilista, em um repente de interrogações em que vira uma pessoa aparecer ex nihilo ainda com esperanças de ser salvo –o que o Sacerdote tinha tentado fazer-, não tem mais tempo, pois o pensamento nunca encontra alguma base fixa para se apoiar, logo tudo acaba sendo ruim, pois tudo é desgraça para ele, como o Kafka, não “K.” escreve “Existem objeções que tinham sido esquecidas? Sem dúvida, estas existem.”. E sempre hão de existir, senhores. Uma morte como um cão foram as últimas palavras de “K.” e Kafka escreve “Era como se a vergonha devesse sobreviver a ele”.

3 comentários:

  1. Cara, pra começar, voce ta confundindo vida com obra. Não tem como comparar a obra literaria de um escritor com sua vida, é confundir ficção e realidade. Só com essa afirmação, se sua proposta fosse pra uma banca, ja teria sido inteiramente refutada.... Voce precisa ler Günter Andres! Viajou, rs

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  2. olha ai:
    http://serafilosofia.blogspot.com/2007/11/filosofia-da-linguagem-em-walter.html

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  3. o anonimo ja disse tudo, amigo

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