Vi-te chorar feito criança que um dia vi
Um choro sem ritmo
Palavras que se repetiam
As lágrimas salgadas escorriam tomando teu rosto
Como as rochas sólidas são tomadas pela correnteza
Enxuguei-te o rosto
Tentando limpar-te a alma dos sofrimentos
Observando tua angústia que não queria cessar
Logo tua língua buscou a minha
Em uma dança de amor e prazer
Os corpos, ainda aquecidos pela lamúria,
Tocaram-se em um misto de saudade e vontade
As bocas que se encaixavam
Sob uma falta de métrica deliciosa
Como foi belo
Ver meus dentes te maculando os seios
Marcando a tua pele alva
Que guarda em si astros, flores e bichos
Tão natural quanto o que representas
As estrelas nesse instante
Já brilhavam como diamantes loucos
Sorrindo, antes de dormir com a chegada do sol
Pude vê-las em teus olhos
Que se abriam e se fechavam
Aproveitando o individual
Ver teu corpo na plena agonia do prazer
A tua voz ressoando pelo quarto em movimento
As tuas unhas me arrancando o lençol
Os teus dentes ferindo o travesseiro
Tentando sufocar os gritos do corpo
Foi como ver o doloroso parto da liberdade
Foi assim
O doce da tua pele
Borrado pelo amargo da minha saliva
O teu corpo trêmulo como tua boca
Me jurando o que eu na hora não podia crer
Teus cheiros e cabelos
Misturados com teu gosto sincero
Sendo deixados em minha cama
A minha pele e suor
Sendo deixados sob tuas unhas
Os teus pedidos e indicações
De querer levar o momento ao sempre
Aproveitando os segundos ingratos
Do tempo que não perdoa
Tu és de fato
A interseção entre o humano e o divino
A seta que paira sob a cabeça dos homens
Dando-lhes o presente dos céus
E me brindando com o calor da carne
Mas também me dás a paz
A paz que meu âmago deseja
A companhia que nunca pude ter
O anzol que me pesca da solidão
Me temes como quem teme um espelho
Mas por ti me refrato
Perco o compasso dos versos
Deixo de ser semelhança
Passo a formar-me diferença
Eu te conheci no raiar das nossas manhãs infantis
Te vivi em cada dia da vida que passou por meus olhos
Te encontrei no pleno gozo do teu egoísmo gracioso
Mas foi quando o sol de nossa infância se pôs
Que eu te tive como mulher.
Muito lindo!
ResponderExcluirA última estrofe fecha com uma beleza invejável!
Parabéns Tamer.