terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Os maluqinhos contemporâneos



Museu de Arte Moderna, Londres

A arte é por necessidade comunicativa, a diferença está no que se comunica, se se trata de algo de valor universal, não importa o estilo que se valha , sendo esta característica mais acentuada na Arte Sagrada, tendo como cume o período medieval, especialmente universal, pois tem um valor fortemente doutrinal, por exemplo, não se pode pintar o Nosso Senhor Jesus Cristo puramente humano, assim como Nossa Senhora como uma mulher qualquer, será arte, se não, não; se a comunicação é limitada, desde o início, à individualidade do sujeito criador, sendo bondoso, tal como esta imensa porcaria acima, não é arte. Simples assim.

Pode acontecer, como Luiz Gonzaga expõe na primeira aula do curso de arte sacra, que vos recomendo, de fronte para um objeto artisticamente autêntico, não venhamos a reconhecer o valor objetivo dele, sua universalidade, portanto, todo o gosto artístico é influenciado pela educação recebida, tomando o exemplo mais específico da música, quando o tutor de Hans Cartop da Montanha Mágica disse-lhe que para se compreender a música clássica dever-se-ia ter lido muitos livros, ou, tomando o exemplo da literatura, do mesmo teor, tal como disse Jorge Luis Borges que para se entender um único romance necessitar-se-ia ter lido outros inúmeros romances, logo, não é porque eu inicialmente não o compreendo, que, por isso mesmo, não possui valor algum, tal vem acontecendo simplesmente por uma ignorância do sujeito, julga-se precipitadamente, o que tem validade, por princípio, é a preguiça e o desleixo.

Universalidade e objetividade é o que acontece com o Fausto de Goethe, dentre outros fatores, pois temos uma distinção entre o artista e o objeto criado, tal como o pai se distingui do filho, mesmo sendo a nós possível reconhecer certas características comuns entre os dois, nunca o objeto gerado se confunde de todo com o criador, isto permiti uma objetividade valorativa à obra, sua raridade e universalidade; também é o mesmo caso, da possibilidade de compreensão universal da “Fantasia on Polish Airs” de Chopin, na qual, não se perde o valor apesar de o tema ser de musicalidade polonesa, o valor dela está para além desse fato, não é porque é romântica que não possuí universalidade. De outro modo, não é o caso quando temos obras puramente subjetivas, mera expressão da individualidade do sujeito criador, igualando, por um defeito da natureza, todas as características do pai com a do filho e vice-versa, num todo coeso e bem definido, sendo a criatura a mesmíssima coisa que o criador, em essência; não havendo, nesse caso, distinção alguma entre o ato de o artista ir ao banheiro ou criar qualquer objeto artístico. Nessa arte subjetiva, na maioria das vezes, a arte é definida pelo preço que ela tem no mercado, se vale muito, é prodigiosa, sublime, sendo o ambiente de ignorantes é comum tomar o acidental como essencial, vale tanto o meu peido quanto a sétima de Beethoven, quer dizer, se a excrescência tiver um valor mais alto, se um especialista, não sei como, conseguir sentir cheirosos perfumes, ponto para ela, é mais arte.

A arte verdadeira, o fio de Ariadne da onde se parte para julgar todas as outras, é a ameaça existente para os maluquinhos contemporâneos, e, por isso mesmo, perigosa, sendo a eles muito mais vantajoso julgá-la inferior, ultrapassada, ao invés de tomar a responsabilidade no peito e buscar o algo a mais que é a característica da arte que vive mais séculos.

Sublimidade da caixa de leite, Museu de Arte Moderna,Londres



Um comentário:

  1. Pedro, eu concordo com toda a tua observação acerca do tema, apesar de não poder expressá-la tão bem quanto fizeste. A arte em si apesar de ter uma premissa subjetiva, sua conclusão, sem sombra de dúvidas deve ser objetiva e transcendente.
    O tema em questão é de suma importância e te digo que tem sido discutido em meio artísticos sérios como de vital importância para a sobrevivência do que se entende por arte nos dias vindouros.
    Apesar de um pouco diferente do que se tenta tratar no texto que nos deste, te recomendo que leia a obra do artista brasileiro Hélio Oiticica acerca do que ele entende por arte contemporânea e como ele postula acerca da quebra de barreiras entre arte e vida.

    Parabéns mais uma vez.

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